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Sobre questões de redação e de língua

Uma das principais preocupações do preparador é com relação à clareza do texto, e alguns cuidados são essenciais para garanti-la. Quando não há nenhuma razão para erros gramaticais – por exemplo, a reprodução de linguagem oral ou jogos de sons ou ainda usos incomuns propositados –, é razoável que a preparação de texto adeque a linguagem à norma padrão (mas sem purismos).

Dominar a norma padrão, aplicando-a com bom-senso é o primeiro passo para atingir esse objetivo. Não é preciso, entretanto, insistir em preciosismos que caíram em desuso nem trocar opções já definidas, como “através de” por “por intermédio de” ou “por meio de”; “às custas de” por “à custa de”; “ciúmes” por “ciúme”; “frente a” por “diante de”; “junto com” por “junto a/de”. Respeita-se, nesses e em muitos outros casos, a opção do autor.

Além das regras já estabelecidas alguns pontos são observados para dar ao texto o máximo de sua capacidade comunicativa:

  1. Períodos muito longos ou truncados, que comprometam a compreensão, são apontados ao autor para que ele os reformule, ou o próprio preparador sugere uma nova redação.
  2. Expressões vagas e imprecisas, bem como termos condenáveis ou inadequados são igualmente apontados e corrigidos.
  3. O excesso de pronomes possessivos é cansativo e deixa o texto repetitivo:
    Ele pôs a mão no bolso, e não: Ele pôs sua mão em seu bolso.
  4. Evita-se o plural distributivo, ou plural doentio:
    Eles levantaram a cabeça e coçaram o nariz, e não Eles levantaram as cabeças e coçaram os narizes.
  5. Em geral, a próclise é preferencial à ênclise em português brasileiro; se o autor tiver um estilo mais enclítico de escrita, isso é levado em consideração, mantendo-se a atenção aos casos em que a próclise é obrigatória.
  6. Ao longo do texto, padroniza-se a grafia de termos redigidos de maneiras distintas, por exemplo, palavras que podem ser grafadas com “qu” ou “c”, como catorze ou quatorze e cotidiano ou quotidiano, preferindo a forma mais utilizada pelo(s) autor(es) do texto. Se não houver consistência ortográfica ou gramatical ao longo do texto da parte do autor, ao preparador cabe escolher uma forma única, dando preferência àquela que melhor se adeque ao texto. Algumas dúvidas sobre a forma preferencial em português brasileiro podem ser dirimidas consultando-se dicionários e manuais da língua.
  7. Os verbos visar e atender regem tanto transitiva quanto intransitivamente seu objeto. A opção da regência segue a preferência do autor, contudo, procura-se eleger uma das duas regências para ser adotada ao longo de um mesmo livro ou, no caso de coletâneas, ao longo do texto de um mesmo autor.
  8. A forma abreviada de para (pra) é aceita em diálogos e transcrições cuja linguagem seja informal.
  9. Utiliza-se hífen na Edufes para unir duas palavras (formando um encadeamento vocabular) ou duas datas:
    Rio-São Paulo; 1942-1945
  10. É importante verificar a coerência no encadeamento dos itens, pois, muitas vezes, a divisão de capítulos, seções feita pelo autor não está adequada ou é desnecessária.
  11. Quando o autor mencionar títulos de livros estrangeiros que têm edições brasileiras, recomenda-se a escrita do título da edição em português.
  12. Não use vírgulas para isolar os termos ainda e também, a não ser em casos em que há uma razão para enfatizá-los.
  13. Com ter e haver, usa-se o particípio regular (aceitado/acendido/imprimido); com ser e estar, usa-se o particípio irregular (aceito/aceso/impresso) de verbos abundantes.
  14. a posteriori e a priori não têm valor temporal, mas discursivo.
  15. ir de encontro a significa chocar-se com; ir ao encontro de significa concordar com.
  16. junto a em geral está usado no lugar de simples preposição (a, com, de, em). Quando convier, substitui-se.
  17. se não é substituível por caso não; senão por apenas, exceto e do contrário:
    Volte antes da meia-noite, se não [voltar cedo], vou ligar para seu pai. / Volte antes da meia-noite, senão vou ligar para seu pai.
  18. dentre se utiliza mediante a exigência da preposição de, significando do meio de:
    Dentre esses autores que fazem parte do modernismo brasileiro saiu aquele que seria o maior ícone de nossa literatura.
    Entre esses autores que fazem parte do modernismo brasileiro está aquele que seria o maior ícone de nossa literatura.
  19. sendo que não é utilizado no lugar de do qual, da qual; é comum que ele seja usado excessivamente, deixando o texto monótono, podendo, em muitos casos, ser substituído por uma conjunção e.
  20. Se houver apenas um lado da questão por outro lado é substituído por no entanto ou termo correlato.
  21. algumas expressões exigem paralelismo, inclusive dos termos que regem, são elas seja… seja…, não apenas… mas (também).
  22. Dá-se muita atenção às conjunções adversativas (mas, porém, contudo), pois é comum que elas sejam usadas para unir partes da sentença que não se opõem.
  23. Observam-se os empregos de locuções que introduzem conclusões (nesse sentido, assim, desse modo), que são muitas vezes utilizadas de forma aleatória e excessiva.
  24. Quando estiverem descritas porcentagens, repetir o símbolo em todos os valores.
  25. Utiliza-se próclise em construções preposição + infinitivo pessoal:
    ao se fazerem, de se lembrarem.
  26. Algumas expressões exigem atenção e devem ser mudadas:
“O que eu disse?”“E como é que é?”
a nível (de)no âmbito (de)
a grosso modogrosso modo
como sendocomo
enquanto queenquanto
face aem face de
haja vistohaja vista
implicar emimplicar
onde (quando não indica lugar)em que
ao invés (se não contrapuser termos opostos)em vez
ao mesmo tempo em queao mesmo tempo que
se casose acaso
ao ponto dea ponto de
em chequeem xeque
rock’n’rollrock ‘n’ roll
  1. Outras expressões exigem atenção, quando usadas excessiva e desnecessariamente, e podem ser mudadas:
“O que eu disse?”“E como poderia ser?”
torna-se necessárioé necessário
pode-se dizer que isso é normalisso é normal
pretendo apresentar neste capítuloapresento neste capítulo

O preparador deve ter em mente que todas as regras descritas nesse manual têm como principal critério de utilização o bom-senso e a coerência, que vai definir quando uma regra pode ou não ser ignorada.

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